A nova gasolina no Brasil chegou aos consumidores no mês de agosto deste ano de 2020. As refinarias localizadas em solo nacional, assim como a gasolina derivada de importação, passam a ter que atender a uma obrigatoriedade nova no que diz respeitos aos padrões de qualidade estipulados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Você sabe o que muda, objetivamente, com essa nova gasolina?
Esta nova exigência em relação à gasolina apresenta alterações físico-químicas, que tendem a deixar o combustível vendido em território nacional mais próximo ao que é comercializado em outras regiões do planeta, como Europa, Estados Unidos e Canadá. Assim, a nova gasolina se mostra muito eficiente em veículos mais modernos.
Vale destacar que as mudanças não aconteceram de forma abrupta, mas seguiram uma tendência, tendo em vista que algumas das especificações já estavam sendo seguidas. O que muda agora é a obrigatoriedade de atender a esses padrões — desde o dia 3 de agosto, com prazo de 60 dias para refinarias e 90 dias para os postos ‘queimarem’ o estoque antigo e passar a vender somente a nova gasolina.
Mas afinal, o que a nova gasolina Brasil, implementada por meio da resolução 807/2020, feita em janeiro, muda em relação à gasolina comercializada no país? Para explicar isso, fizemos este rápido artigo. Confira!
Como era e como ficou
Entenda como era e como ficou a Octanagem, Massa específica e Temperatura e destilação na nova gasolina Brasil.
Octanagem
A octanagem é um índice que faz referência ao nível que a gasolina pode resistir à pressão do motor sem sofrer combustão espontânea. Existem dois tipos que estão relacionados a este índice:
- A RON, que é o número do octano de pesquisa, que consiste na resistência do combustível quando o motor está carregado e com baixa rotação;
- A MON, que é o número do octano do motor, em tradução literal. Nesse quesito, avalia-se a resistência da gasolina à detonação — combustão da ignição do carro — quando o motor está em alta rotação e com plena carga.
Antes, a especificação era restrita a MON e o IAD (Índice Antidetonante), que era a média entre os dois tipos de índice que relacionados anteriormente (RON e MON). Estima-se que a gasolina comum do país apresentava um ROM de 91 com IAD 87, enquanto na Europa o RON médio é de 95, chegando até 98 em alguns casos.
Agora, a gasolina comum apresentará um valor mínimo de 92 RON. E esse valor crescerá de forma gradual. Em janeiro de 2022, o valor mínimo deverá ser de 93, por exemplo. Assim, a qualidade do produto aumentará.
Com isso, a mudança afetará principalmente os veículos mais modernos, que tinham problema com rendimento quando se utilizavam da gasolina antiga.
Massa específica
A massa específica varia do refino do petróleo e é importante para delimitar a potência da gasolina. Esse atributo também é conhecido como densidade.
Antes, o país não determinava parâmetros ou limites para a densidade. Contudo, estima-se que a gasolina comum vendida no país variava entre 700kg/m³ e 740kg/m³. A gasolina importada apresentava uma massa específica menor. Com a nova gasolina Brasil, a gasolina comum e premium devem apresentar uma mássica específica mínima de 175kg/m², de forma obrigatória.
Por que essa medida é importante? Pois a mudança pode servir para dar mais potencial energético para a gasolina nos carros que circulam no país. Quanto menor a massa do combustível, maior é o consumo. A mudança é um dos fatores que pode fazer com que o combustível tenha maior rendimento nos carros.
Ao fim, é esperado um rendimento de cerca de 5% a mais por litro. Mas, ao mesmo tempo, o preço também aumentará. Vale destacar, que o limite mínimo garante uma qualidade mínima no conteúdo da gasolina.
Temperatura e destilação a 50%
A temperatura e destilação a 50% é um dos critérios usados no processo de destilação da gasolina. É também conhecida como “50% dos evaporados”, é o momento em que tem a evaporação de 50% da massa.
Antes, não existia limites mínimos próprios estabelecidos para regular esse parâmetro. Existia apenas o limite máximo de 120º C para a gasolina tipo A e 80º C para gasolina tipo C.
Atualmente, com a nova gasolina Brasil, o índice (T50) indica que a mínima para a gasolina comum deve ser de 77º C.
Segundo a ANP, os critérios de destilação são responsáveis por afetar o desempenho e a potência do motor, além de outros atributos, como a dirigibilidade do automóvel. Para especialistas no ramo, quanto mais fácil for a vaporização do combustível, melhor o seu desempenho nos mais diferentes cenários.
Assim, estabelecer limite da T50 evita frações mais leves do combustível, o que contribui numa melhora na curva de aquecimento do motor, especial quando se realiza a troca de marcas e aceleração e em situações de retomada de velocidade.
Impacto das mudanças
O Brasil apresenta, segundo dados da ANP, um constante aumento no nível de importação da gasolina. Passou de 3,2 milhões de barris em 2010 para mais de 30 milhões no ano passado (2019). No ano de 2018, 19% da gasolina comercializada em território nacional era importada. Com isso, os padrões diferentes de gasolina poderiam acabar prejudicando veículos e equipamentos alimentados com gasolina.
Dessa forma, apesar da gasolina produzida no país ter um nível parecido, existia o risco de obter uma gasolina com parâmetros diferentes. Para evitar esse risco, os lotes adquiridos de gasolina por importação devem cumprir os parâmetros especificados pela ANP. Com isso, se consegue separar o produto ruim do produto bom.
Ao mesmo tempo, a Petrobras afirma que a produção da nova gasolina não é um problema, visto que as refinarias estão adaptadas para produzir combustível sob o novo padrão exigido. É importante destacar que essas novas exigências aumentarão o custo médio da gasolina, o que já foi confirmado pela própria Petrobras.
Leia também: O papel da ANP na cadeia de combustíveis no Brasil
Todavia, esse aumento no custo médio do combustível é compensado pela redução de 4% a 6% no consumo do combustível dos motores, permitido por meio da nova composição da nova gasolina. Assim, o consumidor consegue rodar mais quilômetros por litro.
Além disso, a Petrobras afirma que apesar da nova gasolina apresentar um custo de produção maior, esse fator não determina, sozinho, o preço final da gasolina, pois o preço final é composto por inúmeras outras variáveis, como cotação do mercado, frete, câmbio, valor do barril, etc.
Por fim, vale destacar que a mudança já vem ocorrendo de forma gradual. Outras particularidades da gasolina produzida e comercializada no país não serão alteradas, como a porcentagem do etanol misturado ao combustível, que permanecerá em 27% para gasolina comum e aditivada e 25% para gasolina premium.
A nova gasolina brasileira surgiu para adequar a gasolina produzida no país aos parâmetros utilizados em países do primeiro mundo, como Estados Unidos e Europa. Assim, ganha-se em qualidade do produto e os veículos utilizarão um produto de boa qualidade. Além disso, evita-se que os consumidores utilizem combustíveis com características muito diferentes, o que é ruim para equipamentos e veículos que precisam de gasolina.